Ao final da unidade III, esperamos que você seja capaz de:

Filosofia Cristã e a Concepção de Homem

FILOSOFIA CRISTÃ E A CONCEPÇÃO DE HOMEM

A Filosofia Cristã contextualizada na Idade Média, momento demarcado entre os séculos V a XV faz parte da grande tradição religiosa cultural do ocidente a qual permanece vigorosa até os dias atuais. Mas, como acontece a passagem da Filosofia Clássica, uma Filosofia da razão grega para a Filosofia Cristã-teológica?

Para compreender essa trajetória precisamos falar do terceiro período da Filosofia na antiguidade: o período Helenístico, de suas principais escolas, características e desdobramentos.

Falo mais sobre este assunto nesta videoaula. Acompanhe:

Figura 10

TERCEIRO PERÍODO: HELENÍSTICO

A Filosofia Helenística é uma das menos conhecidas e comentadas da história. Há também alguns desacordos quanto a delimitação específica deste momento. Alguns autores como Vaz (1998) consideram apenas os séculos de III – I a.C, outros como Japiassu e Marcondes (2001) compreendem sua extensão como mais ampla incorporando o início da Filosofia Medieval.

O Helenismo, segundo Japiassú e Marcondes (2001), se refere de maneira geral a toda influência da cultura grega na região do Oriente Próximo (Mediterrâneo oriental: Síria, Egito, Palestina, Pérsia e Mesopotâmia) após a morte do governante Alexandre em 323 a.C. Destacam ainda, como sendo um período que vai da morte de Aristóteles (322 a.C.) ao fechamento das escolas pagãs de filosofia no Império do Oriente pelo imperador Justiniano (525 d.C.).

Com batalhas ganhas e a consequente ampliação de territórios, o imperador Alexandre levou hegemonia cultural e a linguística grega para muitas regiões. O império de Alexandre foi curto e posteriormente a sua morte, toda região foi dividida entre seus principais generais. Essa continuidade, possibilitou que “a cultura grega entrasse em contato com outras culturas, produzindo assim um certo sincretismo cultural.” ( MARCONDES, 2008, p. 94).

A cidade de Alexandria, capital do Egito,  foi a principal referência cultural desta época e símbolo do desenvolvimento do conhecimento. O Museum, templo das Musas e divindades da arte e do saber, construído no século III a.C  contemplou a maior biblioteca da Antiguidade com mais de 500 mil volumes (rolos de papiros). Mas, seu valor foi muito mais amplo pois durante os dois séculos iniciais foi lugar de intensa produção de ciência. O Museum foi incendiado por ocasião da conquista do Egito por Júlio Cesar e, 47 a.C e posteriormente mais duas vezes, em 390 pelo Bispo Cristão Teófilo e em 642 na conquista do Egito pelos árabes. (MARCONDES, 2008).

O desenvolvimento científico em Alexandria ocorreu em variadas áreas, conforme aponta Marcondes (2008). O quadro abaixo sintetiza a produção de conhecimento e ciência daquele momento:

Quadro 3 – Produção de Conhecimento e Ciência em Alexandria

Pensadores e cientistas Período Áreas
Euclides
Final séc. IV a.C
Matemática e geometria
Arquimedes de Siracusa
287-212 a.C
Geometria e mecânica
Herófilo
Séc. III a.C
Descoberta sobre as funções do cérebro
Aristarco de Samos
320-250 a.C
Formulou um modelo heliocêntrico de cosmo e uma hipótese da rotação da terra.
Hiparco de Niceia
190-120 a.C
Autor da primeira gramática da língua grega
Cláudio Ptolomeu
100-178 d.C
Criador do modelo geocêntrico de cosmo que prevalecerá até seu questionamento por Copérnico (1543)
Diofanto
250 d.C
Autor de um tratado de álgebra

Ao longo de dois séculos o pensamento platônico e aristotélico estiveram presentes nos comentadores helenísticos, mas paulatinamente o conhecimento produzido em Alexandria caracterizou se por uma passagem das questões metafísicas para as questões empíricas das ciências naturais. (MARCONDES, 2008).

INDICAÇÃO DE FILME

O contexto do filme é Alexandria, capital do Egito de final do século IV e os conflitos políticos e religiosos entre pagãos, cristões e judeus. A personagem principal é a matemática, filósofa e astrônoma Hipátia que buscará defender a produção racional do conhecimento.

A filosofia da idade helenística está fortemente marcada, como nos indica Marcondes (2008 ) pelos acontecimentos sociais e políticos que levaram a dissolução dos ideais da polis grega, “(…) o homem grego teria perdido sua principal referência ético-política, a vida na comunidade a que pertencia como cidadão, com suas leis, tradições e práticas culturais.” (p. 96)

Temos neste momento da historiografia filosófica uma nova concepção de homem na qual o individuo plenamente integrado a vida comunitária, a qual nutria todas as suas aspirações não existe como antes. Essa conjuntura vai transformar os cidadãos da antiga Atenas em indivíduos do mundo grego. Mas, adverte Vaz (1998, p. 43) “o individualismo helenístico tem características próprias que o tornam um capítulo da concepção do homem clássico, e seria um erro tentar compreendê-lo à luz do individualismo moderno.” 

O individualismo helenístico é a tentativa do antigo cidadão da polis em buscar novas respostas para satisfação de seus anseios. Assim, a questão da busca da felicidade por meio da razão e da virtude constitui se o centro das reflexões. Essa busca aparece como uma eudamonia. (VAZ, 1998).

PARA SABER

EUDEMONISMO (do gr. eudaimonia: felicidade) Doutrina moral segundo a qual o fim das ações humanas (individuais e coletivas) consiste na busca da felicidade através do exercício da virtude, a únicas a nos conduzir ao soberano bem, por conseguinte, à felicidade.

ESCOLAS REPRESENTANTES DO PERÍODO HELENÍSTICO: ESTOICISMO E EPICURISMO

A Filosofia Helenística caracteriza se pelos seguintes traços fundamentais (MARCONDES, 2008):

  1. Organizada por escolas de pensamento que agrupam filósofos com perspectivas semelhantes e não destaca nomes como no período Socrático.
  2. Posição dogmática e doutrinaria das escolas de pensamento, com ausência das características argumentativas e polêmicas que marcaram o pensamento de filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles.
  3. Ecletismo e conciliação de posições e ideias aparentemente divergentes na mesma escola de pensamento.
  4. O individuo em busca da auto realização no centro da problemática filosófica.
  5. Postulam como principio básico a felicidade (eudamonia).
  6. Discussão da ética no sentido prático do “bem viver” no centro das proposições.

 

Destacam se duas vertentes que conformaram escolas de pensamento para refletir e interpretar sobre o processo em busca da eudamonia.  

A Escola Estoica foi segundo Marcondes (2008) uma das que mais compôs o ecletismo. Associaram em sua doutrina desde aproximações com a filosofia aristotélica a elementos que influenciaram o desenvolvimento do cristianismo.

A sistematização do estoicismo parte da consideração que o homem é parte do universo e da natureza e articula a física, a lógica e a ética. Essa relação é ilustrada e trazida por Marcondes (2008) pela analogia com a arvore:

Figura 11

A ética seria o bem e propósito maior que orientaria o homem à eudamonia (em direção à felicidade), sendo a ética também o que assegura a harmonia e equilíbrio do homem à realidade e à natureza. A ação ética de acordo com a natureza pressupõe para os estoicos três virtudes básicas: a inteligência, a coragem e a justiça. A inteligência, “ que consiste no conhecimento do bem e do mal; a coragem, ou o conhecimento do que temer e do que não temer; e a justiça, o conhecimento que nos permite dar a cada um o que lhe é devido.” (MARCONDES, 2008, P. 101)

A eudamonia para os estoicos relaciona se à tranquilidade ou ausência de perturbação que são conquistadas por meio do auto controle e repressão da rigidez. Se por um lado a ação ética envolve avaliação e julgamento da realidade, por outro os preceitos éticos encontram limites em ideias de destino e resignação. A ideia de destino indica que não se poderia mudar a realidade ou natureza exclusivamente pela ação ética. Quanto a resignação, as virtudes relativas à ética recomendam paciência e aceitação ainda que alguns acontecimentos que não possam ser racionalizados e compreendidos.

PARA REFLETIR

Os estoicos ilustram a aceitação por meio de um famoso exemplo: Alguém está em um lago se afogando. Uma pessoa vê e tenta ajudar. Porém, após muitas tentativas de auxílio o afogamento acontece.  Os estoicos diriam que tendo acontecido, o afogamento era inevitável. E você, o que pensaria sobre essa situação e outras parecidas?

A Escola Epicurista teve menos influência e repercussão que a escola dos estoicos. Possuiu em comum com o pensamento estoico a eudaimonia como principio orientador das reflexões, entretanto divergiu dos meios pelos quais se alcançaria a felicidade.

Os epicuristas consideravam que a atitude ética do homem contemplava a ambiguidade e conflitos entre a razão e paixão, e inclusive os desejos e impulsividades não deviam ser ignorados. A ética para a felicidade não estaria na supressão desses aspectos que seriam naturais e próprios ao homem, mas na moderação e sobriedade das paixões visando a  harmonia e equilíbrio.

Os filósofos da natureza não são assunto do passado ou de curiosidade histórica. Suas visões são arcabouços iniciais tanto de argumentos filosóficos como científicos que se desenvolveram posteriormente até a atualidade. A pesquisa atual em filosofia realizada por Polito e Filho (2013) destaca a estreita relação entre o pensamento dos pré-socráticos com as concepções cientificas na Idade Moderna.

O NEOPLATONISMO COMO TRANSIÇÃO PARA A FILOSOFIA CRISTÃ MEDIEVAL

Antes de passarmos a descrição da Filosofia Cristã vale mencionar o movimento do Neoplatonismo como importante demarcador na transição entre a Filosofia da Antiguidade Clássica e a Filosofia Cristã-Teológica.

Plotino (205-270 d. C), foi o principal representante do neoplatonismo por sua autenticidade na elaboração de um sistema que desenvolveu uma metafisica a partir de Platão e Aristóteles, mas “rompeu sob vários aspectos com a tradição racionalista clássica, devido à influência mística e espiritualista do pensamento neopitagórico e alexandrino, e procurou levar a metafísica às suas últimas consequências.” (MACONDES, 2008, p.100)

Marcondes (2008) nos indica que a metafísica de Plotino explica o real em três noções:

  1. Uma parte inacessível e perfeita que gera transbordamento e exterioriza se sem no entanto esgotar ou perder sua unidade. O sol seria uma metáfora para essa instância, o Uno do realidade.
  2. Um Intelecto, correspondente ao mundo das ideias e contemplaria o Uno.
  3. Uma Alma que a partir do Intelecto é o principio do movimento e da diversidade.


O pensamento do neoplatonismo foi interpretado e difundido até o século VI e embora sua obra tenha se oposto ao pensamento cristão, sua visão espiritualista de Platão influenciará a Filosofia de Santo Agostinho que foi leitor de Plotino.

A FILOSOFIA CRISTÃ MEDIEVAL

Nesta videoaula descrevo sobre a filosofia medieval os argumentos de seus principais representantes e também sobre as concepções e teorizações filosóficas que ajudam a moldar ” a concepção sobre o que é o homem” desse período.

Tendo percorrido a Filosofia Helenística e descrito brevemente as características do Neoplatonismo compreendemos seus significados e impactos no sentido da passagem de uma Filosofia alinhada aos valores estritos da cultura grega para uma abordagem filosófica mais ampliada e intercambiável com os valores da cultura Oriental. Mas como se constitui uma Filosofia alinhada aos valores do Cristianismo?

O primeiro marco na constituição do cristianismo como religião independente e dotada de identidade própria é a pregação de são Paulo, um judeu helenizado, funcionário do Império Romano, que se converte e passa a pregar e difundir a religião cristã em suas viagens por alguns dos principais centros do Império Romano. É em são Paulo que encontramos a concepção de uma religião universal, não só a religião de um povo, mas de todo o Império, de todo o mundo então conhecido. (…) A possibilidade de se pensar e defender uma religião universal, entretanto, talvez só faça sentido em um contexto como o do helenismo, em que há uma língua comum e uma cultura hegemônica (…) Pode-se dizer então que a concepção de uma religião universal corresponde no plano espiritual e religioso à concepção de império no plano político-militar. (MARCONDES, 2008, p 117-118).

Os séculos iniciais do Cristianismo caracterizaram se por momentos de instabilidade. Além do contexto de ruína do Mundo Antigo e a decadência do Império Romano, coexistiam ainda as religiões pagãs e politeístas. Assim, para a consolidação e hegemonia da religião Cristã seria necessário vencer os hereges e os  argumentos de uma racionalidade questionadora dos princípios cristãos. 

Nesse sentido, surge a importância dos Padres, considerados os pais da Igreja Cristã, para defender e promover o Cristianismo frente às ameaças e obstáculos ao seu desenvolvimento. Os padres filósofos inauguram a Patrística, primeira escola da Filosofia Medieval Cristã.

A PATRÍSTICA DE SANTO AGOSTINHO

Figura 12

Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/santo-agostinho-biografia/

Aurélio Agostinho (354-430), bispo de Hipona, nasceu em Tagaste, hoje Argélia. Estudou em Cartago, depois em Roma e Milão, foi professor de retórica. Reconverteu-se ao cristianismo, que fora a religião de sua infância, aos 32 anos, após ter passado pelo maniqueísmo e pelo ceticismo. Regressou então à Africa (388), fundando uma comunidade religiosa. Suas obras mais conhecidas são As confissões (400), de caráter autobiográfico. e A cidade de Deus, composta entre 412 e 427.

A Patrística Agostiniana é considerada a primeira grande síntese entre a Filosofia Clássica e o pensamento Cristão, por meio, principalmente, da incorporação da obra de Platão. Esse articulação ficou conhecida como Platonismo Cristão.

Três eixos fundamentais da Filosofia de Santo Agostinho estão organizados em Marcondes (2008):

  1. Formulação das relações entre teologia e filosofia, entre razão e fé.

Agostinho considerava que o conhecimento da realidade é limitado pelo mundo dos sentidos (uma referência ao mundo sensível platônico) e que a Filosofia Clássica é insuficiente para uma verdadeira “sabedoria do mundo”. Assim, seria necessário o ensinamento teológico para alcançar uma compreensão legítima da realidade. É dedicando se a Teologia que o homem preparava a salvação de sua alma. A filosofia seria o instrumento que prepara a alma para compreender uma verdade que provém de Deus, “primeiro acreditar para depois compreender.”

No pensamento agostiniano não há impossibilidade de relações entre a Teologia e Filosofia, entre a razão é a fé. Contudo, destaca a subordinação da Filosofia à fé.    

  1. Teoria do conhecimento ou Teoria da Iluminação Divina

Santo Agostino questionava: como poderia a mente humana sendo falível atingir a verdade eterna? A resposta agostiniana estava em sua Teoria da Iluminação Divina, a qual apoia se na teoria da reminiscência de Platão. A ideia da reminiscência platônica não é incorporada como um todo, mas Santo Agostinho aceita que existe algo que pressupõe o conhecimento e estaria na interioridade do homem. O homem como imagem e semelhança do criador possuiria uma parte, um fragmento do intelecto de Deus e dessa forma interiorizaria a verdade divina que se revelaria pela iluminação.

Santo Agostinho pode ser considerado assim o primeiro pensador em nossa tradição a desenvolver, com base em concepções neoplatônicas e estoicas, uma noção de interioridade que prenuncia o conceito de subjetividade do pensamento moderno. (MARCONDES, 2008, P.124)

  1. Teoria da história em Cidade de Deus


Cidade de Deus
é considerada pelos pesquisadores e comentadores filosóficos como a obra monumental de Santo Agostinho. Constitui uma interpretação sobre a história da humanidade na qual a história é explicada como um processo sucessivo de aproximações e rupturas entre o homem e o criador.

Agostinho argumentava que se Deus é exclusivamente perfeição e bem, o mal não poderia ser criação divina. Então, o mal estaria representado pela quebra da aliança com Deus, fazendo parte da vida terrena ou Cidade dos homens. Assim, a Cidade de Deus estaria para os momentos de aliança com a vontade de Deus e a Cidade dos Homens estaria para os tempos de ruptura com os desígnios divinos. O conflito entre essas duas cidades foi representado pela expulsão do Paraíso, Caim e Abel, a Arca de Noé e o cativeiro da Babilônia.  “Finalmente a vinda de Cristo e o Novo Testamento preparam a redenção e o juízo final quando, só então, a cidade celestial triunfará definitivamente.” (MARCONDES, 2008, p.125). nesse contexto, a Igreja para Agostinho é incumbida de guardar as chaves da Cidade de Deus.

A passagem do tempo para Agostinho não é vista como na Antiguidade com uma  concepção grega que narrava o tempo como circular, sem início e fim. O transcorrer do tempo na perspectiva agostiniana era vista como linear e sequencial, e tinha um sentido singular que é o encontro com Deus.

O desenvolvimento teórico agostiniano da Iluminação Divina e sua concepção de História foi significativa tanto para a Teologia como para a Filosofia, tornando se fundamental na conversão dos bárbaros, na base da doutrina Cristã e na manutenção do poder monárquico. (Marcondes, 2008).

Figura 13

A ESCOLÁSTICA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

Nesta videoaula  falo do segundo momento da filosofia medieval Cristã a
Escolástica e apresento as principais ideias do seu maior representante. Acompanhe a seguir:

A Escola denominada Escolástica tem seu surgimento aproximadamente no século X, tendo passado cerca de cinco séculos desde a Patrística agostiniana. Nesse intervalo a Europa encontrava se fragmentada por sucessivas batalhas e invasões e vivenciava momentos de instabilidade política e econômica. A Igreja representava a única instituição estável, responsável pela educação e cultura, porém a ortodoxia religiosa limitava o desenvolvimento da Filosofia à seus interesses. (MARCONDES, 2008). Um contexto mais promissor para a Filosofia ocorreu a partir do século IX com o Império de Carlos Magno, que foi o primeiro governante consagrado pelo Papa. Marcondes (2008) registra que para reestruturar a Europa o Imperador buscou na Antiguidade greco-romana as possibilidades de uma nova identidade política e cultural. Nesse momento aconteceu a criação de Academias e Universidades para o ensino da Filosofia e de áreas como a Administração e Educação necessárias ao governo. Escolas da Igreja e Mosteiros franciscanos e dominicanos foram criados para o ensino da Teologia e formação do Clero. São Tomás de Aquino é o principal representante da Escolástica e da própria Filosofia Medieval-Cristã. Mas antes dele é importante mencionar São Anselmo como o filósofo precursor da Escola em início do século XI. Santo Anselmo foi o primeiro nome da Escolástica e seguiu a tradição agostiniana aproximando Filosofia e Teologia e mantendo o principio do “Crer para compreender”. Anselmo argumentava a existência ontológica de Deus e “pretende, assim, passar do plano lógico, ou seja, do plano das definições, para o plano ontológico, defendendo a existência do ser definido como necessário (perfeito) como uma consequência dessa definição.” (JAPIASSÍ E MARCONDES, 2001, p. 143).

Figura 14

Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium/santo-tomas-de-aquino-padroeiro-dos-educadores-alunos-e-aprendizagem-gerativa-ai_46465082.htm
Tomás de Aquino nasceu na cidade de Nápoles em 1224, filho de família nobre. Participou da ordem dos Dominicanos, estudou em Paris onde posteriormente foi professor. Lecionou também em Universidades da Itália. Sua obra é constituída principalmente por suas notas pessoais de aula. Em sua trajetória filosófica foi de condenado a consagrado pela Igreja. É considerado um dos 36 doutores da Igreja durante o período medieval.

São Tomás de Aquino encontrou no século XIII uma Europa mais próspera e melhor aderente ao desenvolvimento da sua Filosofia. Em várias regiões europeias, conforme descreve Marcondes (2008) acontecia uma passagem paulatina de um sistema feudal fechado e hierárquico ao desenvolvimento das cidades, do comercio e a consequente migração de pessoas para as novas metrópoles. Esse contexto além da nova ordem política e econômica promoveu relações sociais mais complexas, maior mobilidade social e maior demanda por educação. Todos esses aspectos tornaram possível ressurgir o interesse pelas preocupações científicas e empíricas.

A Filosofia tomasiana representa a retomada desses aspectos a partir do pensamento de Aristóteles.

Características gerais da Obra de Tomás de Aquino

  1. Grandeza argumentativa e conceitual
  2. Sistematiza tanto questões Teológicas e Filosóficas de sua época
  3. Retoma a Filosofia aristotélica para o desenvolvimento da Filosofia Cristã
  4. Um de seus argumentos mais fundamentais está em “As vias ou Prova da existência da Deus”


“As vias ou Prova da existência da Deus”

Na obra  “As vias ou Prova da existência da Deus” Tomás de Aquino buscou na física e na metafísica de Aristóteles as vias para afirmar a existência racional de Deus, por meio de uma Filosofia caracterizada pela autonomia do dogma mas ao mesmo tempo em harmonia com os valores cristãos. (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2008).

O caminho tomasiano começou examinando as teses a favor da existência auto evidente de Deus, tais quais representadas pala patrística de agostinho e do conhecimento ontológico de Deus de Anselmo.

A síntese de refutação tomasiana das teses anteriores consistiu no desenvolvimento do argumento de que a existência de Deus no plano do intelecto não implica em sua existência no plano da realidade. Sua sistematização, como destaca Marcondes (2008), resgata a teoria da Causalidade de Aristóteles, arrematando que: a) Deus é o primeiro motor de tudo, b) Deus é a primeira causa eficiente de tudo, c) Deus é a origem de toda a necessidade e d) Deus é a finalidade última da natureza e da homem.

Como conclusão Tomás de Aquino indicou que a existência de Deus não é auto evidente, pois Deus não pode ser conhecido de forma direta. A existência divina só poderia ser demonstrada por meio do que os homens conhecem de Deus. Assim, o sentido e significado do nome de Deus só pode ser constituído por seus efeitos.

A Filosofia de Tomás de Aquino é considerada a mais original e autêntica de toda a Filosofia Medieval-Cristã, como enfatizam Marcondes (2008) e Araújo e Costa (2023). Estes últimos autores marcam inclusive que em contexto mais amplo o tomismo possui um significativo valor para a psicologia.

Ainda que não exista na obra tomasiana o uso da psicologia ligado ao conceito que este termo tem a partir do século XVI, Araújo e Costa (2023), a partir de comentadores de Tomás de Aquino, destacam que os estudiosos ao se referirem a uma certa psicologia tomasiana indicam um conjunto de temas sobre a natureza, corpo, alma e as propriedades desta última, configurando o que se poderia chamar de uma ciência da alma.

O tomismo e sua relação com a psicologia aparecem revisitados no trabalho de Araújo e Costa (2023) por meio das seguintes perguntas de pesquisa:

LEITURA COMPLEMENTAR

Para finalizar esta unidade de ensino recomendamos a leitura do trabalho de Araújo e Costa (2023), no qual buscam demonstrar com foco no conceito de vontade que existe em Tomás de Aquino uma psicologia genuína, indicando caminhos futuros para esta articulação.

RESUMO DA UNIDADE

Nesta Unidade de Ensino conhecemos o pensamento filosófico da Idade Média, passando por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino; compreendemos as concepções predominantes da Patrística e da Escolástica e refletimos sobre a importância da Filosofia Tomasiana para ciência e a psicologia.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Saulo & COSTA, Ailana. (2023). Sobre a Psicologia em Tomás de Aquino: Uma Análise da Vontade na Suma de Teologia. Memorandum: Memória e História em Psicologia. 40. 10.35699/1676-1669.2023.39938. Em

https://www.researchgate.net/publication/
372433618

JAPIASSÚ, Hilton, MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3 edição. Jorge Zahar. Riao de Janeiro. 2001.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à Historia da Filosofia. Dos Pré-Socráticos à Wittgenstein. 13 edição. Zahar. Rio de Janeiro. 2008.

VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia Filosófica I. 4 edição. Edições Loyola. São Paulo. 1998.

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