Ao final da unidade V, esperamos que você seja capaz de:

Falei anteriormente sobre comunicação não violenta e a importância que esse estilo de comunicar tem para comunicar-nos em nossa vida. Nesta unidade veremos outras ferramentas e habilidades que nos ajudam a comunicar assertivamente.

Comunicação e Resolução de Problemas Complexos

STORYTELLING E A INFLUÊNCIA NA EMOÇÃO DAS PESSOAS

Vou te contar uma história…  Então, prepare-se!

Era uma vez, uma técnica muito difundida em diferentes áreas do conhecimento, que se chamava storytelling. No Brasil, ela ganhou holofotes na primeira década dos anos 2000, principalmente, na literatura produzida para as áreas de negócios, comunicação e marketing, psicologia, inovação, liderança, empreendedorismo, neurociências, dentre outras. Tudo indicava que, mesmo com avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação, as pessoas estavam redescobrindo e reconhecendo a potência de uma das habilidades mais antigas do ser humano – o ato de contar uma boa história. 

No caso das técnicas trazidas pelo storytelling, essa aptidão se torna ainda mais potente, pois ela nos ensina que é possível contar uma mesma história das mais diferentes maneiras, com pontos de vista e/ou interesses diferentes, visando fazer com que as pessoas se conectem, lembrem-se, reproduzam, desejem, emocionem-se, enfim, tragam a história para o repertório de referências e momentos marcantes da própria vida. Imprimam à história nada mais, nada menos, do que o status de fantástica!

Storytelling é um termo em inglês que, de maneira literal, significa o ato de contar histórias. No entanto, a palavra possui duas raízes distintas em sua composição. Em O guia completo do storytelling, Fernando Palacios e Martha Terenzzo nos explicam exatamente essa distinção:

Story é a construção mental feita de memórias e imaginações que cada pessoa tem sobre uma determinada história. Telling é uma versão da história expressa por um narrado, seja em forma de texto, roteiro ou relato, e depois ganha vida por meio de atuações, filmagens e publicações (PALACIOS; TERENZZO, 2016, p. 65).

E é justamente quando a história ganha vida que a mágica acontece. Quantas vezes você já se emocionou assistindo a uma propaganda na TV, ouvindo um spot em uma emissora de rádio, vendo um trailer de um filme ou um filme inteirinho? Quantas vezes você já leu um livro e se sentiu extremamente impactado ou impactada por ele? Posso apostar que, mesmo quem consegue controlar as emoções, já se pegou secando lágrimas em algumas das situações expressas acima.

Quer apostar?

INDICAÇÃO DE VÍDEO

Então, tente segurar a emoção, assistindo ao vídeo a seguir:


Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=SroZv-sQBgg&t=10s


- E aí? Está tudo bem? Conseguiu segurar a emoção?

Essa campanha da Dermodex se chama o Álbum nunca fotografado e foi filmada em 2018, com a finalidade de dar visibilidade e colocar em pauta – de maneira sensível, intensa e emocionante – o acolhimento e a adoção de crianças com mais de sete anos. Repleta de personagens verdadeiras e com foco no real, a campanha narra, de maneira envolvente, criativa e extremamente significativa como teria sido a vida dos filhos adotados tardiamente, caso eles estivessem ao lado do pais e mães desde o início. Para isso, foi criado um storytelling, a partir dos sonhos e relatos da família, sobre cenas nunca vividas, mas, certamente, muito desejadas dos primeiros anos de vida das crianças adotadas tardiamente.  A narrativa se materializou por meio de um álbum de desenhos e colocou em evidência o quanto pode ser incrível e possível a construção de uma família com filhos e filhas adotados depois da primeira infância, que vai até os sete anos. Tudo isso fez com que a história se conectasse verdadeiramente com as pessoas, que entenderam a jornada de cada família – de maneira singular – , passaram a torcer por um final feliz, após momentos de tensão implícitos nos relatos -, aprenderam com a experiência do outro, entenderam o significado dos fatos narrados e, principalmente, viram o quão verdadeira e intensa era a narrativa, dentro daquele contexto.

Isso significa que, quando uma boa história é construída e contada, ela nos emociona, cria uma forte conexão pessoal e, consequentemente, consegue traduzir a mensagem que almejamos passar da maneira mais objetiva possível. E é aí que conseguimos atrelar a importância do storytelling com a comunicação assertiva. É preciso saber construir a narrativa, de maneira envolvente e com os elementos necessários para que, nas mais diversas situações, possamos transmitir a mensagem que gostaríamos e nos fazer entender.

E você sabia que existem algumas técnicas fundamentais e já validadas para criarmos storytelling? Não se trata de uma fórmula mágica, mas, com certeza, ajuda bastante em sua produção. Vamos conhecê-las, agora. Para isso, faremos uma adaptação do texto produzido pelos autores Palácio e Terenzzo (2016, p. 72-79):

  1. Protagonismo: se não existe histórias sem personagens, também não há como contar uma história sem um personagem principal. Ele irá ditar o fio condutor de toda narrativa e, consequentemente, delimita o tom da sua construção.
  2. Tensão: toda história tem uma trama que vai sendo delineada no decorrer da narrativa. Essa trama, geralmente, gira em torno do protagonista e, com o objetivo de prolongar a história e deixá-la ainda mais interessante, momentos de tensão vão sendo construídos. A tensão é, justamente, o que desperta o interesse, as emoções, as paixões pelo fato narrado.
  3. Ensinamento: nada mais é do que a famosa ‘moral da história’, ou seja, estruturamos toda a narrativa com o objetivo de apontar uma lição importante, geralmente protagonizada pelo personagem principal.
  4. Significado: a mensagem que a história deseja transmitir, de maneira ordenada, é conhecida como o significado. O significado é o que imprime
  5. Verdade humana: trata-se da verdade incontestável, ou seja, aquela que nos faz sentir, acreditar e imergir na história. Ela só funciona se conseguir emocionar e é a parte mais difícil de ser construída na narrativa, pois só acontece quando existe a sinceridade emocional, quanto o autor consegue sentir – profundamente – aquilo que a personagem sente e, assim, traduz o fato verdadeiramente.

 

Quantas vezes você já pensou algo como: – Que história de vida incrível! – Que filme incrível!  – Que livro sensacional? – Que texto genial? E, até mesmo, – Como eu amo essa marca!

Quantas vezes você foi além e refletiu: – Por que eu não pensei nisso antes? – Por que eu não escrevi isso? – Eu só compro, se for da marca tal.

Pois é! Isso só acontece quando a história que nos foi contada, de maneira direta ou indireta, transforma-nos e nos impacta. Quando, depois dessa história, já não nos sentimos mais a mesma pessoa; quando ela deixa, dentro da gente, algo realmente impactante e verdadeiro, algo capaz de nos fazer refletir, comportar-nos de outra maneira. E, por isso tudo, fica evidente os benefícios do stotytelling para a comunicação.

Assim, você já percebeu que isso não acontece apenas no âmbito da ficção, não é mesmo? Marcas e pessoas contam histórias, com o objetivo de se conectarem com os seus interlocutores o tempo todo. Com interesses diferentes, elas criam personas e assumem diferente ethos, a fim de se destacarem em determinada situação e/ou diante de um dado público. Quer ver só?

Responda às seguintes perguntas, para a imagem:

Pergunta 1: Que bebida é esta?

Pergunta 2: O que você sente quando olha para esta imagem?

Pergunta 3: Que sensações esta imagem pode provocar em você e nas pessoas, de maneira geral?

Dentre as muitas respostas que você poderia formular para as perguntas acima, provavelmente, se compilarmos as respostas de todos os estudantes que estão cursando esta disciplina, muitas delas foram as seguintes:

Pergunta 1: Que bebida é esta?

Resposta: Coca-Cola.

Pergunta 2: O que você sente, quando olha para esta bebida?

Resposta: Sede! Vontade de tomar esse refrigerante!

Pergunta 3: Que sensações esta imagem pode provocar em você e nas pessoas, de maneira geral?

Resposta: Desejo! Liberdade! Vontade de estar com os amigos! Felicidade! Emoção!

– Sabem por que isso acontece?

Acontece porque a Coca-Cola consegue contar ótimas histórias.

ethos é uma palavra de origem grega que, de maneira literal, significa “caráter moral”. É usada para descrever o conjunto de hábitos ou crenças, que definem uma comunidade ou nação. No âmbito da Sociologia e Antropologia, ethos são os costumes e os traços comportamentais que distinguem um povo. Também é utilizada na arte e na música, para definir como essas manifestações impactam o público, de maneira geral. Mas, aqui, vamos entender ethos como características morais, sociais e afetivas que definem o comportamento de uma pessoa em uma determinada cultura e/ou situação. Podemos associar ethos também ao modo de persuasão ou os componentes de um argumento.
Imagem disponível em: < https://br.freepik.com/fotos-premium/copo-de-refrigerante-de-coca-cola-gelado-com-gelo_11761718.htm>, acesso em 1 abr. 2022.

Assista aos vídeos: Campanha: Toda crise a gente supera juntos.

Campanha: Toda crise a gente supera juntos.

Imagem campanha coca cola

Campanha: Razões para acreditar – Os bons são a maioria.

Imagem campanha coca cola

É isso que as marcas, os livros, filmes, artistas, influencers, profissionais das mais diferentes áreas fazem ao contar histórias de maneira incrível. Eles imprimem em nosso subconsciente elementos capazes de criar imagens, percepções e percursos narrativos que permitem a assertividade em tudo aquilo que almejam alcançar, pela via da comunicação.

“Esse é o poder de uma boa história. Ela pode te encorajar, pode te fazer rir, pode te trazer alegria. Ela vai te fazer pensar, vai tocar suas emoções mais escondidas, e vai te fazer chorar. O poder de uma história também pode curar, trazer paz e transformar a sua vida.” (Jeff Dixon, Ministro religioso e autor de uma série de livros que se passam em Walt Disney World).

Os benefícios para essas histórias bem contadas são inúmeros, dentre eles Palácios e Terenzzo (2016) destacam: cativar a atenção e entreter; despertar a imaginação; facilitar a aceitação das mensagens; garantir relevância por meio do contexto e da verossimilhança; ensinar algo, mostrando como uma dada situação funciona no mundo; dizer quem somos, quem não somos e quem poderíamos ser, imprimir sentido e significado às coisas e ao fato ocorrido; engajar pessoas; influenciar comportamento de consumo e agregar valor.

Nesse sentido, os autores apontam:

Não compramos batom. Compramos a promessa do beijo inesquecível. Não compramos imóveis. Compramos o sonho de um lar e uma família. Não compramos planos de saúde. Compramos a tranquilidade de nunca precisar de um. Não compramos um carro importado. Compramos a admiração dos olhares na rua. Não compramos um anel de brilhantes. Compramos a esperança do amor eterno. Não compramos uma garrafa de champagne. Compramos a emoção de uma comemoração inesquecível (PALACIOS; TERENZZO, 2016, p. 126-127).

Storytelling representa uma das estratégias mais eficientes para nos conectar profundamente com nossas emoções e fazer com que as pessoas se conectem com as delas. Além disso é uma estratégia eficiente no gerencialmente do crises, tópico que vamos estudar agora, ele também representa um excelente instrumento.

GERENCIAMENTO CRISES ON-LI E OFF-LINE

Vimos que saber contar uma história, no tempo certo, utilizando as personagens corretas, trazendo um ritmo para a narrativa, ensinando algo e imprimindo significado são os primeiros passos para construirmos um storytelling eficaz e, consequentemente, promover a comunicação assertiva. Essa técnica, hoje, é uma das mais utilizadas para o gerenciarmos de crises, no âmbito da criação de estratégias comunicacionais, sejam elas on-line ou off-line. Mas vocês sabem o que é uma crise? Não crise de maneira geral, mas crise no âmbito das organizações, sejam elas pequenas, médias ou grandes?

A palavra crise vem do latim e tem equivalência com a palavra vento. Vento é uma ação, uma força da natureza, capaz de modificar cenários, ambientes e estruturas, de maneira leve ou profundamente, por onde passa. No ambiente das organizações, as crises podem ser institucionais, financeiras, políticas, internas, externas, dentre tantas outras. De acordo com Paulo Beck (2011), no Manual de gerenciamento de crises, entende-se por crise “o resultado de uma ocorrência real de algum evento, onde a emergência está fora de controle” (BECK, 2006, p. 4).

 As crises têm natureza diferentes e probabilidade de acontecimento bastante altas, podendo se configurar como ameaças, incidentes, problemas, situações emergenciais, desastres, dentre outras. Muitos autores que trabalham com gerenciamento de crise apontam que elas têm características bastante comuns, que, de maneira simplificada, podemos enumerar como surpresa, imprevisibilidade, urgência e desestabilização. O fundamental, em seu gerenciamento, é tentar minimizar o seu impacto, impedindo o agravamento e a repercussão em massa e, para isso, as empresas e/ou profissionais devem estar preparados para agir em momentos de pressão, tomando decisões rapidamente, identificando as ameaças específicas advindas do processo e fornecendo as informações assertivas, verdadeiras e objetivas sobre o ocorrido.

Isso é um desafio extremamente instigante, uma vez que, com o advento das Tecnologias de Informação e Comunicação, ficou cada vez mais difícil controlar a propagação de informações instantaneamente. Já vimos na nossa primeira Unidade o quão é alarmante a difusão de informações diariamente pelo mundo e o quão elas são acessíveis. Vimos, também, como é complicado controlar essas informações e trabalhá-las de maneira assertiva, verificando sua qualidade, veracidade e intencionalidade. Em um cenário de crise, isso tudo se intensifica, pois a confiança, a reputação, a imagem das organizações e/ou  sociedade e/ou pessoas são colocadas à prova.

Quer ver só um exemplo?  

O rompimento da barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, administrada pela companhia Vale, em Brumadinho – Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 2019, foi a maior crise vivenciada pela empresa, desde a sua fundação, no dia primeiro de junho de 1942, em Itabira. Essa crise perpassou por diversos vieses, dentre eles o ambiental, o humano, o cultural, o político, o econômico, o organizacional e o industrial. Na verdade, o desastre ele é configurado como o maior acidente de trabalho no Brasil e o segundo maior acidente industrial do século, sendo que o primeiro foi o desabamento de um prédio que abrigava fábricas em Bangladesh, causando 1.127 mortes, no dia 24 de abril de 2013. O rompimento da barragem ocasionou 272 mortes, uma convulsão corporativa, um dano ambiental incalculável na região e uma comoção social – com repercussão internacional – sem precedentes históricos. 

 A gestão da crise, nessa ocasião, foi – e continua sendo, mesmo três anos após o fato ter ocorrido, já que crises não tem demarcação de início, meio e fim predeterminada – extremamente eficiente. A Vale criou um canal direto com a sociedade, imprensa, poder público e todos os demais envolvidos e interessados na tragédia, com inúmeras informações e dados técnicos diretamente no seu site. Tudo isso gerido pela Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento da empresa, que agiu de maneira sensível, solidarizando-se com a sociedade de maneira geral e demonstrando que não estava mensurando esforços para diminuir o impacto da tragédia. O fluxo de comunicação foi contínuo, não houve inconsistências, não houve negligência no repasse de dados, não houve dificuldade de acesso às informações, não existiu questionamento que não fosse respondido. Atrelado a isso tudo, a empresa estruturou inúmeras ações que perpassaram pelos âmbitos sociais, ambientais, de infraestrutura, segurança e assistência social, divulgando tudo continuamente.  

A produção de conteúdo pela própria Vale foi enorme.  

Ela conseguiu, com isso, ditar o tom do que era disseminado para a população, bem como o momento em que cada informação deveria ser propagada.  

Um exemplo claro de como a crise vem sendo gerida pode ser visto no vídeo a seguir.

INDICAÇÃO DE VÍDEO

Informações sobre o rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, podem ser consultadas aqui:

https://www.youtube.com/
watch?v=PQmdJQtGvro

É importante destacar que: independentemente do tamanho do problema – a assertividade na comunicação pode ser importante para auxiliar na sua solução.

Quando uma crise é identificada, estar preparado para conduzir o seu gerenciamento é imprescindível. Nesse sentido, podemos elencar alguns passos para serem dados ao longo do processo. O primeiro deles é definir quem será o porta voz ou os porta-vozes, quem irá falar em nome da organização e/ou pessoa.  Em seguida, assumir a responsabilidade pelo fato ocorrido e traçar as estratégias para o fluxo de divulgação de informações e posicionamento. O ideal é que esse posicionamento seja divulgado no menor tempo possível, em canais institucionais e oficiais, com acesso irrestrito a todos os interessados, envolvendo aí a opinião pública, a mídia, organizações governamentais e não governamentais, órgãos reguladores, dentre tantos outros. É necessário agir com transparência, verdade e apresentar as justificativas e argumentos plausíveis para as questões apontadas e o embasamento legal pertinente. E, não menos importante, a falta de verdade e obscurantismo devem ser evitados a qualquer custo, assim como a banalização do fato.

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

É inegável que uma crise só é gerenciada se as pessoas que estão à frente do processo conseguirem mediar conflitos. Além de ser um dos principais instrumentos jurídicos da atualidade, a mediação de conflitos, de maneira geral, é uma habilidade que todos nós, que vivemos em sociedade, precisamos aperfeiçoar e desenvolver, tanto no âmbito do trabalho, quanto profissionalmente. 

Já estudamos nesta disciplina inúmeros recursos que nos possibilita mediar conflitos, de maneira assertiva. Mas, antes de utilizá-los, precisamos entender o que estamos chamando, efetivamente, de mediação de conflitos.  Para isso, vamos recorrer à explicação da pesquisadora Fabiana Marion Spengler, no livro Mediação de Conflitos: da teoria à prática, que rememora a origem do termo mediação, lembrando que ele vem do latim, mediare, e pode significar mediar, intervir, dividir ao meio.

A palavra mediação evoca significado de centro, de meio, de equilíbrio, compondo a ideia de um terceiro elemento que se encontra entre os conflitantes, não sobre, mas entre eles. Por isso, a mediação é vista como um processo em virtude do qual um terceiro (o mediador) ajuda os participantes de uma situação conflitiva a tratá-la, o que se expressa em uma solução aceitável e estruturada de maneira que permita ser possível a continuidade das relações entre pessoas involucradas no conflito (HAYNES, 1993, p. 11) (SPENGLER, 2021, p. 20).

A base da mediação, assim, é resgatar tudo aquilo que se rompeu, na tentativa de reestabelecer a relação entre as diferentes partes. Trata-se de um processo pacífico de resolução de problemas, em que um terceiro – imparcial e independente – consegue facilitar o diálogo entre as partes, promovendo o diálogo e buscando soluções criativas e possíveis para as questões que estão em voga.  Na charge que você verá a seguir, publicada do jornal on-line Extra, fica muito fácil entender como acontece a mediação de conflitos, por exemplo, no âmbito jurídico. Veja só!

Figura 12 – Charge Jornal Extra

Charge Jornal Extra
Fonte: https://extra.globo.com/noticias/rio/rio-tera-oito-novos-centros-comunitarios-para-solucao-de-conflitos-18715045.html, acesso em 12 abr.2022.

Entretanto, não é apenas nesse contexto que a mediação pode desencadear. Ela pode ser utilizada sempre que houver a necessidade de negociação, na qual as partes envolvidas, por livre e espontânea vontade, aceitam um terceiro que os ajude na resolução de um dado problema e, onde havia apenas dificuldades, começa a existir oportunidades e pluralidades. Por isso, a mediação é entendida com um instrumento essencialmente democrático, o espaço para o reencontro, as reconstruções, da comunicação assertiva, contemporânea e, fundamentalmente, capaz de mudar realidades e cenários complexos.

O mediador, então, é esse sujeito que facilita a comunicação entre as partes e possui características bem delineadas. Ao longo do livro da SPENGLER (2021), conseguimos identificar algumas funções que devem ser exercidas durante um processo de mediação, dentre elas, destacamos: 

  1. Auxiliar os envolvidos a encontrar uma solução amigável para o conflito;
  2. Permanecerem neutros, sem emitir opiniões, dar conselhos e/ou tomar partido sobre a situação;
  3. Conseguir identificar as reais necessidades de cada uma das partes;
  4. Manter o sigilo sobre as informações previamente repassadas;
  5. Conseguir promover o consenso entre as partes;
  6. Guiar de maneira sábia a discussão, mantendo o foco e impedindo a intervenção externa.

 

Vale lembrar que, ao falarmos em partes, estamos nos referindo a uma ou mais pessoas. Na animação A fuga das galinhas, a personagem Ginver vive em uma granja e busca, desesperadamente, fugir para não ser abatida. Inicialmente, ela tem muita dificuldade de mobilizar as suas colegas em prol do seu objetivo, mas exerce um exímio papel de mediadora de conflitos e consegue, através da sua capacidade argumentativa, estratégia, clareza, mobilização e, principalmente, gerenciamento e mediação de conflitos, conquistar o seu maior desejo: a liberdade.

INDICAÇÃO DE VÍDEO

Vídeo disponível em:

https://www.youtube.com/
watch?v=aO_ao9cX_To

O mediador, então, é essa pessoa, que inspira e resolve e, para isso, ele utiliza, como falamos no início da Unidade, algumas técnicas. Dentre elas, a comunicação não violenta, a escuta ativa, mas também outras ainda não estudadas.

– Que tal conhecê-las?

Vamos citar algumas, com base na literatura da área, em especial ao livro adotado neste tópico da unidade (SPENGLER, 2021).

  1. Parafraseamento: essa técnica também é conhecida como recontextualização e, por meio dela, o mediador procura fazer com que as partes envolvidas enxerguem a disputa e os problemas por outro ponto de vista. Mudar o foco dos envolvidos, que geralmente veem só o problema, é a grande estratégia embutida no parafraseamento, que consiste em mudar a estrutura das frases, altear as palavras utilizadas, a organização das ideias, a fim de deixá-las mais claras dentro de um dado contexto. Tudo isso sem, no entanto, alterar o significado do conteúdo, nem como a mensagem central.
  2. Rapport: trata-se de uma palavra de origem francesa (rapporter) e significa trazer de volta ou criar uma relação. Na mediação de conflitos, a técnica visa à criação de um elo de empatia com o outro, para que a comunicação aconteça de maneira mais fluida, simples e sem resistência. Trata-se, inclusive, de uma das principais metodologias utilizadas na mediação de conflitos, pois ela consegue criar empatia entre as partes, reestabelece as relações de confiança, aprimora a harmonia e estabelece um vínculo com o mediador. O rapport tem alguns elementos primordiais para que possa ser efetivo, tais como: expressão facial e postura corporal, que consistem em observar o outro e copiar os seus movimentos, mesmo que de maneira sutil, para promover a empatia e conexões; intensidade da voz, que diz respeito à tentativa de usar o mesmo tom de voz, timbre e forma de falar do outro, promovendo uma interligação de ritmos na conversa; equilíbrio emocional, com o objetivo de demonstrar segurança e assertividade; contato visual, para imprimir verdade e espelhamento, que se refere ao fato de o mediador tentar imitar, literalmente, tudo aquilo que as partes fazem, a fim de estabelecer algum tipo de conexão.
  3. Caucus: nada mais é do que a estratégia em que o mediador se reúne individualmente com cada uma das partes, durante um mesmo período de tempo, e imediatamente, uma vez após a outra.
  4. Brainstorming: de origem inglesa, a palavra significa “tempestade de ideias” e tem o propósito de fazer com que cada uma das partes fale, de maneira autônoma e sem filtro, sobre todas as suas questões e. ponderações.

 

Agora que já entendemos como gerenciar uma crise e mediar conflitos, já podemos tentar  estabelecer um mindset da comunicação assertiva para resolvermos problemas. Você se lembra do que se trata o mindset, não é mesmo? Se não, vale a pena rememorar esse conteúdo, antes de darmos continuidade ao assunto, pois, no próximo tópico da Unidade, iremos falar sobre o mindset da comunicação assertiva na resolução de problemas.

MINDSET DA COMUNICAÇÃO ASSERTIVA NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Não é preciso ponderar que tudo o que estudamos até agora faz parte do conjunto de habilidades que precisamos desenvolver, no decorrer da nossa vida, para aprimorarmos a nossa habilidade de comunicação e, consequentemente, resolver problemas. Vimos o quão importante é a escuta ativa, afetiva e efetiva; a comunicação intra e interpessoal; a comunicação não violenta; a comunicação verbal e não verbal; as habilidades com a linguagem, oratória e empatia. Tivemos a oportunidade de entender, por meio de múltiplos exemplos, como a comunicação assertiva media conflitos, gerencia crises, potencializa resultados e transforma. Diante disso tudo, por que, neste momento, no final desta Unidade, resolvemos falar em um mindset da comunicação assertiva para a resolução de problemas?

Você consegue nos responder?

Se não, deixe-me explicar.

Existem duas habilidades – apenas duas – que não foram tratadas ao longo da nossa disciplina e que, seguramente, são a base de qualquer estratégia ou modelo comunicacional para a resolução de problemas. E, a partir de agora, você terá a oportunidade de entender quais são e o porquê de elas terem ficado, propositalmente, para o final desta Unidade e após explicitarmos tantas outras características fundamentais para a assertividade do processo comunicacional nos dias de hoje.

Para começar, conte para gente, com muita sinceridade: em uma escala de 1 a 10, o quão curioso ou curiosa você se considera?

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Neste teste, quanto mais próximo ou próxima você estiver do 10, melhor!
Quer saber o porquê?
Porque, no mindset da comunicação assertiva, com foco na resolução de problemas, a curiosidade é – sem nenhuma sombra de dúvida – um dos elementos principais.


Agora que você já respondeu, vamos ver se você se equivocou na resposta ou se ela está conivente com a sua autoavaliação? Responda às cinco questões a seguir e compare o seu resultado com a sua resposta acima, a partir da seguinte escala:

GRAU DE CURIOSIDADE NÚMERO DE ACERTOS
Conteúdo
Conteúdo
Entre 1 e 3
Até 1
Entre 4 e 7
Até 3
Acima de 7
5 Acertos
Responda às questões abaixo, apontando se as afirmativas são verdadeiras ou falsas.

1. Estima-se que Leonardo da Vinci dormia, em média, 15 minutos a cada duas horas. Tal comportamento é muito semelhante ao de inúmeros mamíferos.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

2. O ser humano só respira por uma narina de cada vez.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

3. Mesmo depois de decapitada, a cabeça humana permanece consciente por até 4 segundos.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

4. O ácido no estômago é forte o suficiente para dissolver lâminas de barbear.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

5. Os primeiros registros de hospitais foram feitos na Ásia, em 431 a.C.
( ) Verdadeiro ( ) Falso

Agora, quero saber! Vá até o Fórum e nos diga se as suas respostas foram condizentes com a sua quantidade de acertos. E preste bastante atenção no que vamos ponderar sobre esse teste. Independente do grau de curiosidade que você considera que possui, caso não tenha acertado, pelo menos, cinco questões em cinco, repetindo, CINCO QUESTÕES EM CINCO, é preciso repensar a sua conduta diante das informações que o cercam. É preciso repensar a sua relação com o mundo. Repensar o quão importante a pesquisa é na sua vida. Isso porque tudo o que foi questionado aqui são informações extremamente divulgadas e muito insipientes para qualquer pessoa, pincipalmente, para quem se aventura a trabalhar na área da saúde.

Para que problemas sejam resolvidos, atualmente, uma das premissas básicas é ter a CURIOSIDADE muito aguçada. É atentar-se para todos os pormenores que acontecem no mundo. É agir de maneira incansável, quando o quesito é aprender, e ir sempre além. No mindset da comunicação assertiva, a curiosidade ocupa lugar de destaque. No Tedx, A ascensão da curiosidade, Carlos Fiolhais, Doutor em Física e Professor Catedrático na Universidade de Coimbra, demonstra que todos os maiores pensadores do mundo tinham uma característica muito comum, a curiosidade. Durante a sua fala, ele ressalva que a ciência é uma construção e o saber, uma acumulação; somente os sábios conseguem responder a questões extremamente complexas e, consequentemente, apresentar as soluções mais adequadas para as maiores dificuldades.

Assista ao vídeo!

https://www.youtube.com/watch?v=S6QKg_MihYQ

A curiosidade, então, é a porta de entrada para o desenvolvimento de múltiplas inteligências. Celso Antunes, no livro As inteligências múltiplas e seus estímulos aponta que a inteligência, de maneira bem simples, é a faculdade de compreender. Trata-se de uma palavra de origem latina, composta pela junção inter = entre e eligere = escolher. Como capacidade cerebral, ela nos permite compreender as situações e escolher o melhor caminho a ser seguido.

Analisando de maneira sucinta as raízes biológicas da inteligência, descobre-se que ela é produto de uma operação cerebral e permite ao sujeito resolver problemas e, até mesmo, criar produtos que tenham valor específico dentro de uma cultura. Dessa maneira, a inteligência serve para nos tirar de alguns apertos sugerindo opções que, em última análise, levamos a escolher a melhor solução para um problema qualquer (ANTUNES, 2019, p. 8).

Isso só acontece porque não temos apenas um tipo de inteligência, mas sim vários. Alguns desses tipos carregam uma carga genética expressiva que, se bem estimulada, pode se desenvolver. Outros dependem primordialmente das oportunidades que tivermos ao longo da nossa vida, dos paradigmas que formos construindo e, consequentemente, do nosso esforço individual. Dentre os tipos de inteligência, destacamos a linguística ou verbal, a lógico-matemática, a espacial, a musical, a cinestésica corporal, a naturalista e as inteligências pessoais (intrapessoal e interpessoal e cada uma delas se manifesta de alguma forma no nosso organismo, desencadeando as nossas ações). 

 

Se a curiosidade instiga a inteligência e se torna a base da pirâmide do mindset da comunicação assertiva, a observação vem lado a lado. A aprendizagem pela observação é extremamente eficiente, tanto que nas teorias da psicologia existem inúmeros estudos sobre o poder da percepção visual. Em 1970, o psicólogo Richard Gregory afirmou que a percepção era “construtiva e que, ao olhar para algo, uma pessoa começa a montar hipóteses perceptuais sobre o que vê com base no conhecimento prévio – e essas hipóteses são, em sua maioria, sempre corretas” (KLEINMAN, 2015, p. 87). Podemos aprender pela observação, por meio de modelos vivos – pessoas e/ou seres de outras espécies que apresentam determinados comportamentos -; modelos verbais, nos quais há o repasse de informações e instruções ou modelo simbólico; e pelo contato com comportamentos retratados nos livros e nos mais diferentes meios audiovisuais.

A observação nos permite analisar, mesmo que à distância,  uma dada situação, criando modelos mentais e formas de solucionar os mais diferentes problemas. O segredo é o seguinte: observar, antes de imprimir qualquer tipo de opinião, para solucionar problemas que, até então, pareciam impossíveis de serem resolvidos.  A observação é um dos nossos principais meios para movimentar percepções e os modos de pensamento e, por isso, torna-se fundamental no mindset do comunicador assertivo, que visa solucionar problemas.

Dito isso e após esta carga imensa de conteúdos que foram apresentados até agora, chegou o momento de focarmos toda a nossa atenção na última Unidade desta disciplina: Comunicação e Saúde. Prepare-se! Você precisa estar com todos os conceitos trabalhados até aqui bem fixados, para conseguir assimilar e, principalmente, ter a comunicação assertiva como uma aliada, no dia a dia da sua profissão.

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