Ao final da unidade I, esperamos que você seja capaz de:

Definição Comunicação: Definição, Modelos e Aplicabilidade

COMUNICAÇÃO: DEFINIÇÃO, MODELOS E APLICABILIDADE

Nesta primeiro videoaula, além de conceituar “o que é comunicação”, explico que a comunicação não é simplesmente “aquilo que eu falo” mas, comunicação “é aquilo que o outro entende”. Veja mais no vídeo a seguir:

No dia primeiro de janeiro de 2022, a população mundial atingiu a marca de 7,8 bilhões de habitantes. Um aumento de 74 milhões de pessoas, em relação ao primeiro dia do ano de 2021, segundo o Instituto Censos Norte-Americano.

Isso significa que 7,8 bilhões de pessoas se comunicam, diariamente, no planeta.

Você já parou para pensar o impacto que isso tudo gera em um fluxo de comunicação? A resposta pode parecer óbvia para os mais desavisados, mas fato é que comunicar nunca foi tão complexo. Estamos vivendo em um ritmo mais frenético do que qualquer outro antes visto, cujo direcionamento está atrelado ao desenvolvimento científico-tecnológico. O termo comunicar vem do latim communicare e significa “colocar em comum”. Nesse cenário impulsionado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), maneiras extremamente consolidadas na comunicação humana, como a interação em uma mesma língua, ou o uso da mesma forma de se falar ou, ainda, a utilização dos signos linguísticos verbais e não verbais semelhantes começaram a ser, progressivamente, impactadas pelas mais diferentes descobertas científico-tecnológicas.

O cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil, na canção Parabolicamará, traduz a questão da seguinte maneira: “hoje o mundo é muito grande/ porque a terra é pequena / do tamanho de uma antena parabolicamará” (GIL, 1992).

Que tal ouvir a música do Gilberto Gil?

Acesse o link:

https://www.deezer.com/us/track/
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Graças às novas tecnologias, diferentes povos, culturas, artes e conhecimentos se aproximam, expondo uma série de reflexões antes encobertas. Nunca antes da história humana foi tão simples o processamento, o armazenamento e a disseminação de informações. Segundo Manuel Castells (1999), a respeito da sociedade informacional ou sociedade em rede, a sociedade contemporânea vivencia o impacto da interação cada vez mais dinâmica entre seres humanos e TIC’s.

Mudaram-se as relações. Encurtaram-se as distâncias. Ressignificaram a percepção de tempo e espaço.  Alteraram a forma como uma mensagem é produzida, veiculada, compreendida e assimilada. Muitas vezes, já não reconhecemos a autoria de uma dada informação. Temos dúvida em relação à linguagem. Sabe por quê? Porque, segundo McLuhan, o meio é a mensagem. No entanto, antes de explicar o que isso significa, veja só: nos últimos anos vimos se propagar em nosso país as fake News (2). A disseminação de notícias falsas na esfera política, econômica e até da saúde, foi imensa. A própria pandemia do COVID-19 foi permeada por essas falsas notícias. O que se percebe é que quanto maior o desafio do cenário, quanto maior o grau de incertezas e de fragilidades, mais propensos estamos a sermos vítimas dessa chuva de fake news.

  1. Você já acreditou em alguma notícia e depois descobriu que ela era falsa?
    (  ) Sim      (  ) Não    (  ) Não sei
  1. Você já compartilhou com as pessoas alguma informação antes de checar sua veracidade?
    (  ) Sim      (  ) Não    (  ) Não sei
  1. Você acredita que de alguma maneira mesmo que não intencional, já tenha colaborado com a disseminação das fake news?
    ( ) Sim      (  ) Não    (  ) Não sei
  2. Acha que as pessoas no geral na vida pessoal e profissional tem o hábito de compartilharem informações com as outras sem saber a procedência ou checar a veracidade dos fatos?
    ( ) Sim      (  ) Não    (  ) Não sei


E aí? Como foi responder essas perguntas? Se em algum momento sua resposta foi SIM, você certamente já fez parte desse tipo de comunicação equivocada que afeta negativamente no meio a qual elas estão direcionadas. As informações falaciosas/mentirosas sempre serão prejudiciais, por isso a importância de trabalharmos ferramentas para entender a importância da comunicação que acerta e o impacto dessa comunicação em vários âmbitos, sobretudo na saúde.

A teoria do meio é a mensagem foi apresentada no livro Understanding média: the extensions of man, tornando-se um dos estudos mais importantes do autor McLuhan, ao propor uma problematização dos meios de comunicação, considerando o fato de eles se tornarem um novo ambiente de percepção e mutação da mensagem que está sendo transmitida e que, nesse sentido, ganha um novo viés e, consequentemente, um conteúdo totalmente inédito.

McLuhan, ao realizar tal abordagem, ressignifica todo o conceito do processo comunicacional desenvolvido até então, o qual se vinculava à ideia de emissor e receptor, sem considerar o meio3F (1) (FIG. 1). O modelo clássico da comunicação4 (2), inclusive, em que um emissor transmitia uma mensagem, através de um canal, para um dado receptor, que poderia decodificá-la ou não, dada a interferência direta ou indireta de um dado ruído, não se sustentava mais.

(1) De origem latina, a palavra meio corresponde ao singular de medius (media, médiuns). Tal definição pode ser encontrada na tradução do livro de Marshall MacLuhan, Os meios de comunicação como extensão do homem (São Paulo: Cultrix, 1974), traduzido, então, por Décio Pignatari.

(2) Modelo Clássico de Comunicação elaborado nos anos 40, por C. Shannon e W. Weaver, também conhecido como Modelo Linear.

Figura 1 – O modelo clássico de comunicação

Fonte: Katler (2005, p. 536)

Por isso, McLuhan desenvolveu uma teoria que acabou disseminada pelo mundo todo, pois considerava o meio como mensagem, ou seja, para ele, seria impossível compreender as informações veiculadas, assim como qualquer tipo de mudança social, sem conhecer, precisamente, o funcionamento dos meios e a forma como eles estavam atuando no ambiente. Segundo o autor, conforme pontua Irene Machado no artigo Ah, se não fosse MacLuhan!…,

Para produzir “mensagem”, o meio faz uma “massagem” tátil nos modos perceptivos, e ato comunicacional nenhum resulta de uma única emissão sensorial. Por isso, o meio inclui qualquer tecnologia que crie extensões do corpo e dos sentidos humanos, desde a roupa até o computador. O corpo é o espaço tanto da sensorialidade quanto do envolvimento tátil ambiental. A tatilidade do ambiente, contudo, não é dimensionada pelas coordenadas espaciais, mas pela tradução do sensório (MACHADO, 2009, p. 49).

As teorias de Marshall McLuhan vigoraram, de maneira inquestionável, por muitos anos. Até que, como ele mesmo previu, as TIC’s iriam impactar verdadeiramente na maneira como produzimos, disseminamos e consumimos informações. Hoje, somos todos os interlocutores, porque a comunicação é, necessariamente, um processo interativo entre os sujeitos e, como interlocutores, somos também mídia.

No modelo clássico de comunicação, um receptor, com algum dado, iria transmitir a informação, através de um canal, que faria com que a mensagem fosse decodificada para chegar até os seus receptores. Esse fluxo seria impactado apenas se, no meio desse processo, um ruído o atrapalhasse. O alcance também era bastante limitado. A mensagem era enviada de maneira unidirecional: emissor – receptor. Com a teoria de McLuhan, essas informações já seriam ressignificadas pelo meio, ou seja, dependendo do meio no qual elas fossem disseminadas, o dado final poderia sofrer alteração. Já na contemporaneidade, na sociedade da informação, o fluxo é interacional, há interação, mediada por um ou, simultaneamente, vários meios. A mesma pessoa produz e consome informação o tempo todo. Isso acaba gerando um número gigantesco de informações e ruídos no processo comunicacional, gerando uma comunicação não assertiva.

Portanto, a comunicação humana hoje, é subjetiva e extremamente complexa. Por isso, torna-se fundamental estudá-la, independente da área de atuação, para que possamos ser assertivos durante todo o processo. Falando em assertividade, vamos ouvir juntos uma música super assertiva para os tempos desafiadores que estamos vivendo: a importância de fazer o bem, sorrir e acreditar em dias melhores.

Capa com artistas do Making of de Iluminado

“Fazer o bem
É sempre uma coisa dada
Sem esperar nada
Sem olhar a quem
Vamos sorrir,
Pra não cair em cilada

Quem não ri de nada
Não sabe o que tem
O que fazer?
Tudo é possível
Como um dia de sol (…)”

COMUNICAÇÃO SÍNCRONA E ASSÍNCRONA

Em nossa história, a comunicação e a difusão de informações começaram muito antes do desenvolvimento das TIC’s. A oralidade está lá, nos primórdios da nossa existência, quando pronunciávamos expressões para alertar sobre perigos, por exemplo. Em seguida, através das pinturas rupestres, marcamos a nossa existência na inexatidão do tempo. Isso se iniciou há mais de 40 milhões de anos, como explicam os historiadores H.W. Janson e Anthony F. Janson (2000), em Iniciação à história da arte, quando, já nos últimos estágios do período Paleolítico, as primeiras imagens do corpo humano foram impressas pelos aurinhacenses e madalenianos em superfícies rochosas da caverna de Lascaux (5), na região francesa de Dordogne (FIG. 2).

(3) Pesquisa realizada no dia 13 de fevereiro de 2022, às 14h05.

(4) Pesquisa realizada no dia 13 de fevereiro de 2022, às 14h07.

(5) De acordo com o sítio oficial do Ministério da Cultura Francesa (www.culture.fr) – órgão responsável pela administração da Caverna de Lascaux –, o local está fechado para visitação pública, desde 1963, a fim de garantir a sua preservação. O Ministério disponibilizou um portal eletrônico (www.lascaux.culture.fr), com material específico sobre a Caverna, onde os usuários podem realizar um tour virtual, pesquisar e conhecer um pouco mais a região.

Figura 2 – Le Puits: Fragmento de pintura rupestre na Caverna de Lascaux, França

Le Puits: Fragmento de pintura rupestre na Caverna de Lascaux
Fonte: http://www.lascaux.culture.fr

Esse painel, conhecido como Friso de Animais, retrata seres humanos, bisões, veados, bois e cavalos e está localizado em uma das partes mais inacessíveis, escuras e distantes da caverna, protegido de qualquer tipo de intervenção, seja ela humana ou climática. As obras dos povos primitivos estimulam os nossos sentidos, instigam e parecem esmiuçar e aguçar, ainda mais, as desmedidas formas de (re) interpretar as experiências humanas no mundo. 

Na tentativa de prolongarmos e de nos comunicarmos de maneira ainda mais assertiva, criamos os primeiros alfabetos e, aprimorando ainda mais o nosso processo comunicativo, chegamos ao desenvolvimento tecnológico. As TIC’s conectaram a humanidade, ao transmitirem informações por impulsos elétricos, ondas de rádio e TV, bits e bytes, satélites, redes wi-Fi, 5G e muito mais.

Deixar rastros, ensinar e aprender, além de preservar a memória, é um modo de ser da espécie humana. As pinturas rupestres são exemplos clássicos de comunicação assíncrona: aquela que não acontece de maneira simultânea, na qual não existe interação imediata. Ela não necessita de que as pessoas se encontrem em um mesmo espeço (físico ou on-line) ou de tempo para acontecer, uma vez que não ocorre em tempo real.

Já a comunicação síncrona é simultânea e implica, necessariamente, que os participantes estejam em um mesmo espaço (físico ou on-line), ao mesmo tempo, para acontecer, conforme podemos ver no QUADRO 1 abaixo.

Quadro 1 – Modelos de comunicação

Modelo de Comunicação
Síncrona Assíncrona
Acontece em tempo real – simultaneamente
Não acontece em tempo real
Pode acontecer no espaço real ou virtual
Pode acontecer no espaço real ou virtual
Exige a presença das pessoas
Não exige a presença das pessoas
Proporciona a interação imediata
Não proporciona a interação imediata
Exemplos: conversa ao telefone, reuniões presenciais ou virtuais, aulas on-line ou presenciais, lives ao vivo, Internet Rlay Chat (chats), dentre outros
Exemplos: vídeos postados em plataformas digitais, lives gravadas, aulas on-line, e-mails, sites, podcasts, dentre outros

Fonte: Elaborado pela Autora, 2023.

O CORPO ENQUANTO SISTEMA DE LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL

Concreto e abstrato. Real e virtual. Vivo e morto. Orgânico e inorgânico. Humano e pós-humano. Homem e máquina. Isso é o corpo na contemporaneidade. Você consegue visualizar cada um desses papéis que o corpo tem hoje? Vamos materializar. Observe as imagens!

Figura 3 – O corpo na contemporaneidade

Quatro mulheres e Dois Homens com roupa íntima escrito concreto
Fonte: Banco de imagens (Shutterstock)
Quadro de cores e Formas Aleatórias Abstrato
Fonte: Acervo Juliana Ribeiro.
Várias e distintas mulheres de roupa íntima branca escrito REAL
Fonte: Dove (2023)
Imagem do Rosto de um Humano construída com códigos verdes numa tela preta de computador Matrix - escrito Virtual
Fonte: Acervo Juliana Ribeiro
Rosto de criança assustada no escuro escrito Vivo
Fonte: http://www.jorgequintao.com
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/299137600
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Tecido de Pele Humana escrito Orgânico
Fonte: www.jorgequintao.com
Robô Humanoide escrito Inorgânico
Fonte: Banco de Imagens (Shutterstock).
Três corações humanos escrito White, Black e Yellow
Fonte: https://www.delas.pt/toscani-regressa-as-campanhas-da-benetton-com-o-tema-integracao/moda/316059/
Ator Antonio Bandeiras por trás de uma pessoa careca e com uma máscara Pós-Humano
Fonte: https://www.culturagenial.com/a-pele-que-habito-resumo-e-explicacao-do-filme/
Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci
Fonte:https://www.culturagenial.com/
homem-vitruviano-leonardo-da-vinci/
Fonte: http://rededoesporte.gov.br/pt-br/megaeventos/paraolimpiadas

E agora? Ficou mais fácil?

O corpo é isso: um objeto histórico, multifacetado e, sobretudo, singular. “Cada sociedade tem seu corpo, assim como tela tem sua língua”, garante Michel de Certeau (1982, p.180), em Histories du corps.  Então, precisamos entender que o corpo está em constante mutação e que ele se adapta à época em que existe. Trata-se de um processo simbiótico, constituído pela cultura, tecnologia disponível, capacidade de transformação e adaptação orgânica ao tempo em que existe. Mas para além disso, é importante compreendermos que nosso corpo fala, fala mais do que nossas próprias palavras, segundo demonstram os livros e estudos.  Os escritores Pierrei Will e Ronald Tompakow (2015) trazem em sua obra “O corpo fala” a importância da linguagem não verbal e da expressão corporal em nossa comunicação, demonstrando que nosso tórax, abdomen, cabeça, gestos, olhares e postura, comunicam.

O corpo, então, estabelece uma estreita relação com o mundo e com o outro, com o tempo e o espaço e, consequentemente, com a comunicação. Além disso, quando trazemos a perspectiva do corpo para a comunicação verbal e para comunicação não verbal (CNV), o assunto fica um tanto quanto complexo, porque, apesar de parecer óbvio, a linha entre comunicação verbal e não verbal é também difusa.

Quer um exemplo?

Vamos pensar nos gestos que compõem a linguagem de sinais utilizadas pelos surdos. Esses gestos são claramente linguísticos, o que os torna verbais. Ao mesmo tempo, os gestos que fazemos com as mãos, com certa frequência, como o aceno ou o sinal de vitória, são considerados parte do nosso comportamento, diferente de palavras e, por isso, não verbais.  Compreender esses sinais impressos pelo corpo é fundamental para decodificar uma mensagem.

Vamos estabelecer as diferenças básicas entre esses dois tipos de comunicação, mas antes, porém, é preciso relembrar que a comunicação humana, além de um fenômeno, é uma construção social, com função social também.  Comunicar é partilhar, é compartilhar informações através de um canal, de um meio. A comunicação verbal é, relativamente, mais fácil de ser definida, apesar de também ter algumas nuances, pois ela compreende toda linguagem falada ou escrita, ou seja, qualquer mensagem transmitida pelas palavras, de maneira discursiva. Já a comunicação não verbal é muito mais complexa e é a responsável pela qualificação das interações humanas, pois ela dita o sentimento, as emoções, a qualidade da mensagem que está sendo transmitida. Ela contextualiza – de maneira simbólica – a informação, fazendo com que possamos compreender os sentimentos do interlocutor. “Respondemos aos gestos com uma extrema vivacidade e, quase se poderia dizer, segundo um código elaborado e secreto que não está escrito em parte alguma, não é conhecido por ninguém, mas compreendido por todos” (SAPIR apud CORRAZE, 1982, p. 9).

Ainda de acordo com Corraze (1982), a comunicação não verbal é processada através do corpo (considerando suas qualidades físicas, fisiológicas e de movimento), nos objetos associados ao corpo (adornos, roupas, cicatrizes, tatuagens e nos produtos da habilidade humana) e, por último, na dispersão dos indivíduos no espaço (que engloba desde o espaço físico que cerca o corpo até o espaço que a ele se relacione, ou seja, o espaço territorial).

Em um fluxo de interação humana, a comunicação não verbal abrange mais de 90% das possibilidades de expressão, manifestando-se, em 40% das oportunidades, por sinais paralinguísticos, como a entonação da voz, a pronúncia, a hesitação, a tosse, a respiração ofegante, o suspiro, dentre outros elementos. Já os outros 50% ficam a cargo dos sinais silenciosos do corpo, como o olhar, os gestos, a postura, a expressão facial, as próprias características físicas etc. Esses dados foram apresentados pela Maria Julia Paes da Silva, no livro Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde

Agora, um ponto de atenção. Dito tudo isso, alguns sinais não verbais são possíveis de serem vistos, lidos e interpretados durante um processo interacional. Dentre eles, destacam-se:

  • Ações ou movimentos do corpo, englobando expressão facial, olhar, gestos;
  • Postura corporal (cinésica) – movimentos;
  • Sinais vocais ou paralinguísticos (volume da voz, hesitações, repetição de palavra, por exemplo, são as qualidades vocais);
  • O uso do espaço por quem está falando (proxêmica) = distância interpessoal;
  • Objetos e adornos utilizados pela pessoa;
  • Tipo de corpo;
  • Momento em que as palavras são ditas;
  • Utilização do toque (taxêmica), ou seja, contato corporal.

 

Tudo isso faz parte da comunicação humana e das estratégias que todos nós utilizamos para expressarmos emoções e personalidade. A comunicação não verbal nos aponta uma série de atitudes interpessoais que fazem com que a interação entre os sujeitos seja eficiente ou não.

Em caso de observar em alguém ocorrendo conflito entre a mensagem verbal e a comunicação não verbal, lembre-se: a mensagem não verbal deve ser considerada, por ser mais fidedigna à verdade. No entanto você, como emissor, como orador, deve buscar ter congruência entre os elementos verbais e os não verbais, para gerar uma comunicação mais clara e assertiva.

Levando em consideração todas essas questões para a área da saúde, além da clareza na comunicação verbal, a comunicação não verbal é importantíssima para estabelecer uma relação saudável com o paciente e um diagnóstico preciso no atendimento. Uma série de pesquisas já foram realizadas sobre esse assunto, demonstrando que o toque, por exemplo, transmite segurança durante uma consulta; o contato visual é responsável pela confiança; a escuta ativa é primordial, sendo um dos instrumentos básicos para o relacionamento terapêutico, por isso, não se pode desconsiderar que a linguagem verbal pode ser usada para ampliar a não verbal e vice-versa. Elas se complementam e são fundamentais no processo assertivo da comunicação.

MENSAGENS MULTISSÍGNICAS

Nada na natureza é isolado; nada é desprovido de conexão com o todo.

Goethe

Antes de começarmos a falar sobre mensagens multissígnicas, você sabe o que é signo?

Etimologicamente, a palavra signo vem do latim e significa sinal. Existem dois conceitos bem clássicos sobre o tema. O primeiro vem da Linguística e foi muito abordado por Ferdinand Saussure, através da Semiologia. Para Saussure, signo é a união do sentido com a imagem acústica, concebendo-se uma relação didática entre significado e significante. Ao pronunciarmos ou escrevermos uma palavra, temos seu plano de expressão, denominado significante. Ele é composto pelo som e pela escrita, mas o que essa palavra quer dizer mesmo trata-se do seu significado, que está no plano do conteúdo.

 O outro conceito vem da Semiótica, desenvolvido por Charles Peirce (1977) e é ele que nos interessa. Semiótica é a ciência dos signos e dos processos significativos ou semiose, que ocorrem na natureza e na cultura. A palavra semiótica tem origem na expressão grega semeîon, que quer dizer signo + “sêmea, traduzido por sinal ou signo”. A semiótica, então, vai estudar qualquer sistema de signos, dentre eles a música, a fotografia, o cinema, as artes plásticas, o design, a mídia etc.

Mas… voltando, o que são signos, então?

Para entender o conceito, precisamos refletir um pouco sobre a nossa própria existência e conexão com o mundo. Todos os dias, nos deparamos com uma realidade repleta de fenômenos. Somos impactados com tantas informações e conexões, diariamente, que elas acabam passando despercebidas pelos olhos mais desatentos. Partindo da teoria de Peirce, a maneira como interagimos, compreendemos e estabelecemos significados em nossa vida provém dos signos. Signo é entendido como tudo aquilo que perpassa pela existência humana, de forma a estabelecer um elo comunicacional entre as coisas e sujeitos, possibilitando as inúmeras formas de significação. Então, signo é a forma como interpretamos as coisas do mundo e damos sentido a elas. Os signos fazem a intermediação com a realidade que nos cerca. Eles podem ser verbais e não verbais e são classificados como naturais, entendidos como aqueles que têm origem na natureza, ou artificiais, produzidos pelo homem e já carregados de possibilidade de significação. Dessa maneira mensagem multissígnica significa pluralidade nos sinais, sinais múltiplos.

Mas, qual a aplicação disso em nossa profissão e em nossa vida pessoal?

Se não conseguimos interpretar os diferentes signos, isso pode provocar ruídos inimagináveis no fluxo comunicacional, principalmente, no que diz respeito à comunicação não verbal. A fim de tornar os pontos que merecem atenção mais claros, Judith A. Hall e Mark L. Knapp (2016), no livro Comunicação não verbal na interação humana, examinam os vários sinais que nos ajudam a obter êxito na interpretação de mensagens multissignicas, dentre eles a intimidade, a dominância, o gerenciamento da interação, a identidade e a capacidade de enganar o outro.

A intimidade é o sinal mais importante e, ao mesmo tempo, o mais complexo de ser compreendido, pois a linha entre ser invasivo e ser honesto em uma relação é muito tênue. Por isso, vamos focar nesse sinal específico. De maneira geral, quando as pessoas estão à vontade na transmissão de uma mensagem, elas apresentam

maior inclinação para frente; mais proximidade física; mais olhar no olho; mais abertura de braços e corpo; expressões faciais e vocais mais positivas. A baixa frequência desses comportamentos, particularmente quando esperados, ou a manifestação de comportamentos opostos tendem a ser associadas com menos intimidade ou até com desagrado (HALL; KNAPP, 2016, p. 369).

Isso significa, então, que entender o quão íntimo e próxima uma pessoa que esteja transmitindo uma mensagem está do seu interlocutor, maior a possibilidade de sucesso na interpretação da mensagem. Uma das mais clássicas análises sobre o comportamento humano foi publicada pelo Journal of Consulting and Clinical Psychology, em 1975, por Clore, Wiggins e Itkin. No estudo original, os pesquisadores reuniram muitas afirmações verbais que descreviam o agrado e o não desagrado não verbais.  A partir daí,eles elencaram os comportamentos considerados inferiores e superiores, em um fluxo comunicacional. Hall e Knapp adaptaram o estudo.

O resultado dele encontra-se resumido no QUADRO 2 abaixo:

Quadro 2 – Comportamentos avaliados como cordiais e frios

Comportamentos cordiais Comportamentos frios
Olha nos olhos
Olha com frieza
Toque nas mãos
Sorri com sarcasmo
Move-se na direção do interlocutor
Dá um falso bocejo
Sorri frequentemente
Faz carranca
Examina-o da cabeça aos pés
Afasta-se
Tem uma expressão de felicidade
Olha para o teto
Sorri com a boca aberta
Palita os dentes
Faz caretas
Balança a cabeça negativamente
Senta-se diretamente à sua frente
Limpa unhas
Avena afirmativamente com a cabeça
Desvia o olhar
Franze os lábios
Faz tromba
Lambe os lábios
Fuma um cigarro atrás do outro
Ergue as sobrancelhas
Estala as juntas dos dedos
Arregala os olhos
Olha em torno da sala
Usa gestos de mão expressivos, enquanto fala
Junta as mãos
Dá rápidos olhares
Brinca com as pontas dos cabelos
Estica-se
Cheira o cabelo

Fonte: Hall; Knapp (2016, p. 370)

A partir desse estudo, verificamos que, quando o relacionamento mais íntimo entre as pessoas se desenvolve, a frequência dos gestos e comportamentos cordiais tende a aumentar e, consequentemente, haverá maior sucesso na comunicação.

Mensagens multissígnicas, então, são um desafio para a comunicação humana e merecem atenção especial em qualquer fluxo comunicacional.

REFERÊNCIAS

  • BARROS, Diana Luz Pessoa de. Contribuições de Bakhtin às teorias do discurso. In: BERLO, David K. O processo de comunicação: introdução à teoria e à prática. São Paulo: Martins Fontes, 2003.  
  • CERTEAU, Michel de. Histoires du corpos. Escprit, no 62, fevereiro 1982. P.180 
  • GALA, Maria Fogaça, TELLES, Sandra Cristina Ribeiro, SCR, SILVA, Maria Júlia Paes da. Ocorrência e significado do toque entre profissionais de enfermagem e pacientes de uma UTI e Unidade Semi-intensiva cirúrgica. Rev. Esc. Enferm.USP. 2003; 37(1):52-61.  
  • HALL, Judith A. & Knapp, Mark L. A comunicação não-verbal na interação humana. São Paulo: JSN Editora Ltda, 1999. 
  • JANSON, H.W & JANSON, A, F. Iniciação à história da arte. 2a. Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 
  • LE BRETON, David. A Sociologia do corpo. 5a ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. 2011. 
  • MACHADO, I. Ah, se não fosse McLuhan. CARAMELLA, E.; NAKAGAWA, F.S.; KUTSCHAT, D.; FORGLIANO, F. (Org.)  Mídias, multiplicação e convergências. São Paulo: Editora Senac, 2009.  
  • MCLUHAN, M. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São Paulo: Nacional, 1977.  
  • ––––––––––. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1979.  
  • PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977.  
  • SILVA, Maria Julia Paz.  Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. 3 ed. São Paulo: Loyola; 2002.
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